A Qualcomm estava ansiosa para demonstrar hoje, durante um evento em
São Paulo, o que muda com seu SoC mais novo, o Snapdragon 805. Mas entre
os aparelhos de referência que continham o chip, também tive a
oportunidade de passar alguns minutos com o Mi 3 da Xiaomi e o One da OnePlus, dois celulares extremamente interessantes que dificilmente chegarão ao Brasil.
Excetuando-se o fato de que ambos são chineses e foram baseados em
SoCs similares (Snapdragon 800 para o Mi 3 e Snapdragon 801 para o One),
esses aparelhos têm propostas muito diferentes. Basta segurar o celular
da Xiaomi para perceber que ele é um produto que busca sofisticação. Há
uma noção popular na internet de que o design industrial dessa
fabricante imita a Apple, mas a impressão que ele me deixou lembra mais
uma versão ligeiramente mais rústica dos aparelhos de alumínio da Nokia,
como o Lumia 925.
É o visual do sistema que de fato lembra um pouco o iOS da Apple.
Ícones e listas de menus são contidos por quadriláteros de cantos
arredondados e a interface em geral é bem limpa, com bastante espaço
negativo branco e algumas transparências. Nada disso é necessariamente
ruim, pelo contrário, mas a experiência básica do Android foi tão
modificada que nem o menu de aplicativos sobreviveu. Curiosamente, ele
mantém o velho botão de opções capacitivo no lugar do atalho para os
aplicativos recentes que se tornou padrão nos modelos mais novos.
O OnePlus One vai em sentido oposto na filosofia de design. O
aparelho é todo feito de plástico e é relativamente despretensioso. No
entanto, fui positivamente surpreendido pela qualidade do acabamento.
Para um telefone que prioriza a relação entre custo e benefício, há
muita margem para o bom gosto nele. A traseira tem uma textura
ligeiramente áspera que lembra um pouco a superfície dos notebooks de
fibra de carbono da Lenovo (embora o material em si seja plástico
comum). A tela enorme de 5,5″ e a traseira ligeiramente arredondada o
aproximam do LG G3, e ele fica bem confortável na mão.
Ao contrário da customização extrema do Mi 3, o One preserva e amplia
a experiência essencial do Android com o Cyanogenmod 11S. Note que este
não é o Cyanogenmod 11 comum e sim uma versão especial, com um tema
diferenciado e algumas peculiaridades nos aplicativos de câmera e de
galeria (eventualmente, a versão pública da ROM deve integrar essas
mudanças). De qualquer maneira, ele mantém o desempenho impecável e as
inúmeras opções de customização que tornaram esse fork do Android tão
famoso. Um ponto interessante é que o telefone já vem com todos os
aplicativos e APIs relevantes do Google instalados, o que significa que
quem comprá-lo não vai precisar fazer sideloading de nenhum desses apps
populares.
A apresentação do Snapdragon 805 em si
exaltou os recursos gráficos do chip. Como já havia sido anunciado, esse
SoC marca o final de um ciclo para a Qualcomm, que deve seguir adiante
para um processo de fabricação mais avançado (encolhendo de 28 nm para
20 nm) e para o conjunto de instruções ARMv8 com o futuro Snapdragon
810. Outra marca importante é que este é o último SoC com núcleos Krait
(pelo menos por enquanto), já que o próximo componente vai utilizar a
solução big.LITTLE da ARM (que combina o Cortex A57 com o Cortex A53).
Obviamente, o desenvolvimento interno de CPU da Qualcomm não vai parar e
tudo indica que uma mudança ainda mais significativa virá depois do
Snapdragon 810.
A aplicação prática desse novos recursos tem dois pilares principais:
a implementação de técnicas sofisticadas de renderização em jogos e a
habilidade de lidar com imagens em UHD. No caso dos games, a GPU oferece
suporte a OpenGL ES 3.1 e Direct 3D 11, que trabalham com técnicas como
o tesselation. No caso da produção de vídeos, o DSP é capaz de gravar
em 4K a 30 FPS ou em 1080p a 120 FPS. A maior novidade nesse ponto,
contudo, é que ele foi preparado para decodificar vídeos em HEVC
(h.265). Conforme o 4K se torna mais popular, é natural que o codec HEVC
também ganhe tração. A habilidade de decodifica-lo pelo próprio
hardware do smartphone será importante no futuro para manter o
desempenho e eficiência energética desses aparelhos. Ainda assim, a
gravação de vídeos pelo Snapdragon 805 continuará sendo em AVC (h.264).
Por fim, tive a chance de rodar alguns benchmarks em um tablet de
referência com o novo SoC. Embora as novidades citadas acima já seja
uma vantagem por si só, a superioridade do 805 sobre o 801 ainda não
está clara nos testes. Obtive resultados marginalmente superiores à
média no Quadrant (21574 pontos), no Geekbench (2788 pontos) e no 3DMark
(19407 pontos). O resultado do 3DMark é especialmente intrigante pois
já obtivemos mais de 18000 pontos com aparelhos que usam a Adreno 330.
De qualquer maneira, o Snapdragon 805 ainda é muito recente e peculiar
(especialmente por causa da interface de memória larga). Quando a sua
adoção comercial se tornar mais disseminada, é provável que as
diferenças fiquem mais claras.
fonte:info.abril
0 comentários: